Um relatório final da Polícia Federal (PF) sobre a investigação de uma suposta tentativa de golpe de Estado, planejada por aliados do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) em 2022, revelou o envolvimento do padre José Eduardo de Oliveira e Silva, da Diocese de Osasco. De acordo com as conclusões da PF, o religioso colaborou na elaboração de uma minuta e criou uma espécie de “oração ao golpe”, que pedia que brasileiros, tanto católicos quanto evangélicos, incluíssem os nomes de 17 generais e do então ministro da Defesa, Paulo Sérgio Nogueira de Oliveira, em suas preces, solicitando que esses militares tomassem medidas para “salvar o Brasil”.
Em mensagens de WhatsApp analisadas pela PF, o padre José Eduardo enviou a “oração ao golpe” a Gilson da Silva Pupo Azevedo, conhecido como Frei Gilson, citando nomes de generais de alta patente do Exército, como o próprio Nogueira, comandante do Exército, e outros oficiais-chave da força militar. A lista inclui, entre outros, os generais Marco Antônio Freire Gomes, Valério Stumpf Trindade, e Estevam Cals Theophilo Gaspar de Oliveira.
O texto compartilhado pelo padre no dia 3 de novembro de 2023, pediu que todos os brasileiros, independentemente de sua denominação religiosa, orassem pelos militares, com o intuito de dar-lhes coragem para “salvar o Brasil” e “agir com consciência histórica”. A PF afirma que a mensagem deixou claro que José Eduardo, após a derrota de Bolsonaro nas eleições presidenciais, já defendia a ideia de um golpe de Estado apoiado pelas Forças Armadas.
A investigação apontou que a “oração ao golpe” fazia parte de um esforço para frustrar a posse de Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e impedir a transição pacífica de poder. O padre José Eduardo de Oliveira e Silva é um dos 37 indiciados pela PF no inquérito, que visa desmantelar a trama golpista. Em fevereiro deste ano, ele foi alvo da operação Tempus Veritatis, que resultou na aplicação de medidas cautelares, como a proibição de manter contato com outros investigados e a entrega de seus passaportes.
O relatório da PF, com mais de 800 páginas, detalha as ações de diversos envolvidos em um movimento que visava reverter os resultados das eleições de 2022. O caso segue sendo investigado, e a polícia continua a apurar as conexões entre os diversos indiciados.
Veja o que a defesa do Padre de Osasco:
“Menos de 7 dias após prestar depoimento à Polícia Federal, o padre José Eduardo de Oliveira e Silva viu seu nome ser estampado pela mesma PF como um dos indiciados no inquérito da Petição 12.100. Os investigadores, ao apresentarem o relatório, romperam a lei e tratados internacionais ao vasculharem conversas e direções espirituais que, por garantias de sigilo, são protegidas e realizadas pelo padre. Vale destacar que o Ministro Alexandre de Moraes decretou sigilo no referido processo, o que significa que, sem autorização nos autos do mesmo juiz, a Polícia Federal não poderia emitir declarações ou notas com nomes de indiciados. Houve, portanto, o descumprimento de uma ordem judicial.
Como é recorrente, ordens judiciais devem ser cumpridas. Portanto, a Polícia Federal não poderia sugerir que havia qualquer tipo de autorização direta do Ministro, já que uma ordem judicial só pode ser modificada por outra ordem judicial, resultante de decisão em processo regular, e não por mera comunicação verbal ou escrita. O descumprimento dessa ordem judicial é um dos diversos abusos cometidos ao longo da investigação.
O padre José Eduardo reafirma que jamais participou, e nem tem condições técnico-jurídicas, de participar de qualquer reunião que visasse romper a Ordem Institucional e o Estado de Direito. Como religioso, ele vai a Brasília desde 2013 e sempre atendeu a todos que o procuraram com questões de cunho religioso. Foi exclusivamente nesse contexto que ocorreram suas visitas à capital no final de 2021 e em todas as demais vezes em que se dirigiu ao Distrito Federal.”
Fonte: Gazeta Brasil